Giovanni Maciocia
A Medicina Chinesa sempre insistiu na importância da atividade sexual excessiva: este artigo chamará a atenção a dois fatores:
- A diferenciação entre homens e mulheres no que diz respeito à atividade sexual.
- Atividade sexual insuficiente como causa de enfermidade.
- Atividade sexual insuficiente como causa de enfermidade.
Quando se fala de atividade sexual, os livros chineses nunca
diferenciam homens e mulheres. Há diferenças significativas entre a
fisiologia sexual masculina e a feminina, pois o excesso de atividade
sexual é um fator que causa menos enfermidades em mulheres do que em
homens, devido à natureza do Tian Gui.
Tian Gui é a essência geradora que faz homens e mulheres serem férteis. O primeiro capítulo do Su Wen diz: “Quando a menina alcança os 14, o Tian Gui chega, o Ren Mai se abre, o Chong Mai floresce, a menstruação começa e ela é capaz de conceber.” No caso dos homens, “quando um rapaz tem 16, o Qi do Rim é forte, o Tian Gui chega, o esperma é ejaculado, Yin e Yang estão em harmonia e ele é fértil.” Portanto, Tian Gui é a essência que permite às mulheres conceber e aos homens fertilizar.
Nos homens, a perda de esperma implica em uma perda de Jing (Essência), por isso, a atividade sexual excessiva (muito frequente) pode diminuir o Jing. Nas mulheres não há a mesma perda de Jing na atividade sexual, já que não há perda de óvulos durante o ato.
Ainda que os livros chineses sempre mencionem o excesso de atividade
sexual como causa de enfermidade, nunca mencionam a atividade sexual
insuficiente como possível causa de enfermidade. Não foi sempre assim,
pois nas dinastias passadas todos os manuais de sexo diziam claramente
que a atividade sexual é essencial para a saúde tanto de homens quanto
de mulheres. De fato, a abstinência sexual era vista de forma suspeita
(assim como as monjas budistas).
Alguns médicos chineses consideravam tanto a falta de sexo quanto a
frustração sexual como uma das principais causas de estresse emocional
em mulheres. O desejo sexual depende do Fogo Ministro, e um apetite
sexual saudável indica que este Fogo (fisiológico) é abundante. Quando o
desejo sexual cresce, o Fogo Ministro se aviva e o Yang aumenta: o orgasmo é a liberação desta energia Yang
acumulada, e sob circunstâncias normais, é uma descarga benéfica de
Yang-Qi que promove a livre circulação do Qi. Quando o desejo sexual
cresce, o Fogo Ministro se agita, isto afeta a Mente (Shen) e especificamente o Coração (Xin) e o Pericárdio (Xin Bao). O Coração conecta-se ao Útero através do vaso do Útero (Bao Mai), e nas mulheres as contrações orgásmicas do útero descarregam a energia Yang acumulada do Fogo Ministro.
Quando há desejo sexual, mas não há atividade sexual e orgasmo, o
Fogo Ministro pode tornar-se patológico, acumulando-se e gerando calor
no Sangue (Xue) e estagnação de Qi no Aquecedor Inferior. Este calor acumulado agitará o Fogo Ministro ainda mais e perturbará o Shen, até que a estagnação de Qi
no Aquecedor Inferior possa ocasionar problemas ginecológicos, como a
dismenorréia. Assim sendo, quando há ausência de desejo sexual, a falta
de atividade sexual não será causa de enfermidade, contrariamente a
alguém que se abstenha da atividade sexual mas que possua um forte
desejo, o que agitará o Fogo Ministro. Portanto, o fator determinante é a
atitude mental e o desejo sexual.
No que diz respeito à frustração sexual, Chen Jia Yuan, da Dinastia Qing,
escreveu de maneira muito observadora a respeito do desejo e da solidão
de algumas mulheres. Entre as causas emocionais de enfermidade,
diferencia a “preocupação e o pensamento” da “depressão”. Basicamente
considera a depressão, com sua consequente estagnação, como consequência
da frustração emocional e sexual e da solidão. Diz: “Em mulheres...como
viúvas, monjas Budistas, servas e concumbinas, o desejo sexual agita (a
mente) por dentro, mas não podem satisfazer o Coração (Xin). O
corpo está restringido por fora e não pode se expandir com a mente (a
mente deseja a satisfação sexual mas o corpo o nega). Isto causa
estagnação de Qi no Triplo Aquecedor (San Jiao) e no
peito, após algum tempo haverá sintomas estranhos como sensação de frio e
calor como se fosse malária, mas não é. É a depressão”.1
Mesmo que as considerações acima derivem da experiência clínica do Dr
Chen com servas, monjas Budistas e Concumbinas, e considerando que sua
experiência deveria ser considerada em relação ao contexto social da
Dinastia Qing, isto também é relevante nos tempos de hoje, já que
fala essencialmente sobre a frustração sexual e solidão, como confirma
sua referência a viúvas (na China antiga as viúvas eram deixadas a um
segundo plano e raramente voltavam a se casar). Refere-se
especificamente ao desejo sexual que agita o corpo mas não encontra
satisfação nem no Coração nem na Mente: além da frustração sexual, se
refere também à frustração emocional e ao desejo de amar e ser amado.
Portanto, considerando a posição social das mulheres na China Antiga
e a habitual frustração destacada acima, não é de se estranhar que a
estagnação de Qi ocupe um lugar tão central nas patologias
femininas, sendo a estagnação emocional em mulheres frequentemente o
resultado da frustração sexual, separação, perda e solidão: estes são os
”desgostos” recorrentes nos livros de medicina chinesa.
A frustração sexual era uma causa comum de enfermidade especialmente a partir da Dinastia Song
em diante, já que os Confucionistas não viam com bons olhos a atividade
sexual, que deveria ser praticada em segredo, e mesmo assim sem nenhuma
amostra de afeição em público (como acontece hoje em dia na China). O
modo de atuar em segredo da medicina e sociedade chinesa é um resultado
claro não tanto da influência Comunista, mas da influência Confucionista
da dinastia Qing. É importante compreender, porém, que estas
regras não implicavam em nenhum conceito de sexo relacionado a “pecado”,
nem que a mulher fosse vista como origem do pecado como estabelece o
ponto de vista Cristão. A aversão Confucionista ao sexo era determinada
principalmente devido ao medo de que a promiscuidade pudesse atrapalhar a
sagrada vida em família.
1- Eight Secret Books on Gynaecology, p.152.
Traduzido do artigo: Vida Sexual en Medicina China - Maciocia, Giovanni (http://maciociaonlinespanish.blogspot.com/2011/07/vida-sexual-en-medicina-china.html)
fonte : flordeameixeira.com
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