Havia, certa vez, um rei sábio e bom, que já se encontrava no fim de
sua vida. Certo dia, pressentindo a chegada da morte, chamou seu único
filho, que o sucederia no trono, tirou do dedo um anel e deu-o a ele
dizendo:
- Meu filho, quando fores rei, leva sempre contigo este anel. Nele há uma inscrição. Quando estiveres vivendo situações extremas de glória ou de dor, tira-o e lê o que há nele.
- Meu filho, quando fores rei, leva sempre contigo este anel. Nele há uma inscrição. Quando estiveres vivendo situações extremas de glória ou de dor, tira-o e lê o que há nele.
E o rei morreu, e seu filho passou a reinar em seu lugar, sempre
usando o anel que o pai lhe deixara. Passado algum tempo, surgiram
conflitos com um reino vizinho, que acabaram culminando numa terrível
guerra. O jovem rei, à frente do seu exército partiu para enfrentar o
inimigo. No auge da batalha, seus companheiros lutavam bravamente;
mortos, feridos, tristeza, dor, o rei lembra-se do anel; tira-o e lê a
inscrição:
E ele continua a luta. Perde batalhas, vence outras tantas, mas ao
final, sai vitorioso. Retorna, então, ao seu reino e, coberto de glória,
entra em triunfo na cidade. O povo o aclama. Neste momento ele se
lembra do seu velho e sábio pai. Tira o anel e lê:
"Tudo é impermanente. Tudo que está sujeito ao surgimento está sujeito à cessação".
(Buda)
(Buda)
A compreensão da impermanência nos proporciona confiança, paz e
alegria. A impermanência não conduz obrigatoriamente ao sofrimento. Sem
ela, a vida não existiria. Sem a impermanência, sua filha não cresceria e
se tornaria uma linda mulher. Sem a impermanência, os regimes políticos
opressivos nunca mudariam. Mas nós achamos que a impermanência nos faz
sofrer. O Budha deu o exemplo do cachorro que foi atingido por uma pedra
e ficou zangado com a pedra. Não é a impermanência que nos faz sofrer,
mas sim o desejo de que as coisas sejam permanentes, quando na verdade
não são.
(Thich Nhat Hanh; The Heart of the Buddha's Teaching)
(Thich Nhat Hanh; The Heart of the Buddha's Teaching)
Algumas pessoas acham que o budismo é pessimista, sempre falando de
morte, impermanência, velhice - mas isso não é necessariamente verdade. A
impermanência é um alívio! Eu não tenho uma BMW hoje e é graças à
impermanência desse fato que eu posso vir a ter uma amanhã. Sem a
impermanência eu ficaria preso à não-posse de uma BMW e nunca poderia
vir a ter uma. Eu posso estar me sentindo muito deprimido hoje e, graças
à impermanência, amanhã eu posso estar me sentindo ótimo. A
impermanência não é necessariamente uma má notícia; tudo depende de como
a interpretamos e a compreendemos. Mesmo que hoje nossa BMW seja
riscada por um vândalo ou que nosso melhor amigo nos deixe na mão, não
vamos ficar tão preocupados assim. Quando não reconhecemos que toda
coisa composta é impermanente, isso é um engano, uma ilusão. Quando
compreendemos isso - e não só intelectualmente - ficamos livres desse
engano. É a isso que chamamos de liberação: ficar livre da crença
unidirecionada e bitolada de que as coisas são permanentes. Mesmo o
caminho, o precioso caminho budista, também pertence à esfera do
composto, quer gostemos disso ou não. Ele tem um começo, tem um fim, tem
um meio.
(Dzongsar Khyentse Rinpoche; Os Quatro Selos do Dharma)
(Dzongsar Khyentse Rinpoche; Os Quatro Selos do Dharma)
Referência: Dharmanet
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