Felicidade: um estado natural da Alma
A doutrina budista afirma que a dor é inerente à vida física. Assim, temos a dor da fome, a dor da doença, a dor da velhice, a dor dos desenganos, a dor das separações, a dor das traições e outras tantas dores decorrentes do fato de que vivemos num estado de dependência de tudo e de todos para manter o conjunto chamado "físico - emoção - mente".
Entretanto, intuitivamente parece existir um estado em que a dor não está presente. Nós o chamamos de "felicidade", algo que imaginamos como uma perene ilha de paz, concórdia e serenidade, longe de toda angústia e incerteza. Em suma, uma utopia, considerando as reais condições deste mundo.
Se felicidade é coisa rara, temos entretanto o prazer, que muitos tomam como a verdadeira e única felicidade ao nosso alcance. Porém, felicidade e prazer seriam a mesma coisa?
Ainda nossa natureza intuitiva diz que não. Se freqüentemente tomamos uma coisa pela outra, talvez seja para compensar a frustração da felicidade que só vemos de longe, enquanto o prazer se manifesta em vários momentos de nossos contatos com o mundo, definindo-se como uma sensação momentânea de satisfação, vinculada ao desfrute de algum dos sentidos, como passear, comer, ouvir música ou estar com o ser amado.
Especialmente nas relações do último tipo - estar com a pessoa amada - o que normalmente se desfruta são pequenas doses de prazer, na medida em que possamos "trocar", considerando que nossas relações amorosas (na verdade, embriões de amor) só admitem a entrega enquanto existe um retorno. Porém, no fundo o que buscamos mesmo é a felicidade, esse algo mais permanente que o outro sempre reluta em nos dar. O que é bastante compreensível, pois felicidade é algo que ninguém pode dar. Por que não?
Porque a felicidade - pasme-se! - já é nossa, pelo menos potencialmente. Está relacionada com nosso estado natural de Ser, segundo o ensinamento esotérico. Nessa condição é chamada de "ananda" (termo sânscrito), sendo atributo ligado à natureza do Eu, que é divino em si mesmo. Ou seja, a real consciência do nosso Eu é a própria felicidade. Por isso, as verdadeiras sendas espiritualistas são "caminhos de autoconhecimento".
Já o prazer relaciona-se com as sensações que o Eu desfruta transitoriamente no contato com as coisas, escravizando-o, porém, ao mundo da forma, dos desejos ou dos sentidos.
O mundo da forma é chamado de Maya, a "Grande Ilusão". Tem inúmeros atrativos, é verdade. Porém, são feitos de fumaça e isso é nada menos que a origem da dor. Perseguimos fumaça pensando que é felicidade. Qualquer vento empurra a fumaça para longe de nós e assim não conseguimos retê-la, prendê-la nas mãos. O que fica no lugar é o vazio da dor.
Mas se a felicidade é inerente ao Ser, por que então a buscamos fora, sujeitando-nos aos enganos provocados pela Grande Ilusão? Porque estamos presos aos sentidos. E quem é a maior responsável por isso? A mente, nosso sentido maior, o órgão que decifra os sinais prazerosos dos sentidos e retém a memória desse prazer, impelindo-nos a buscá-lo de novo.
Por isso o trabalho dos yogues consiste em dois esforços: fechar as portas aos sentidos e controlar a mente. Tudo para se atingir o conhecimento do Eu Real, onde estamos em relação não dependente com todos os outros "Eus" (base do Amor) e onde mora "ananda".
As técnicas do Yoga representam, no momento atual, um atalho para se atingir mais rapidamente tal objetivo. Mesmo sem esse esforço decerto chegaremos lá dentro de alguns milhares de anos, pelas lições naturais que a vida oferece, aos poucos aprendendo que não podemos confiar no "docinho" oferecido pelos sentidos.
Assim, resta-nos continuar sofrendo ou pagar o preço, trabalhando mais agora.
Walter da Silva Barbosa
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