Quão valiosos somos para as outras pessoas? Não digo qualquer pessoa,
mas para aquelas que dizem se importar conosco. Quão importantes de
fato somos para elas? Tenho me pegado pensando constantemente nisso e
por mais que você tenha uma visão esperançosa em relação ao homem,
parece-me que realmente vivemos na era da indiferença.
A
vida contemporânea exige muito de nós, isso é algo sabido por todos. No
entanto, isso não justifica o modo como agimos uns com os outros. As
relações são meramente questões de conveniência, é uma troca de fardos
no mercado da personalidade, de tal maneira que apenas me aproximo de
determinada pessoa e mantenho uma relação com ela se houver algo dela
que possa usar. Ou seja, as relações humanas seguem lógicas comerciais
e, assim, todos nos tornamos mercadorias.
Obviamente, não estou
querendo dizer que devemos nos submeter a relações degradantes, que
apenas usurpam nossas forças ou que não devemos esperar reciprocidade ao
se envolver com alguém. Mas, ao implementarmos uma lógica comercial às
relações humanas, deixamos de considerar totalmente as nuances e
complexidades que formam o ser humano.
Isto é, ninguém está bem o
tempo inteiro, tampouco, possui uma constante na vida. Todos nós temos
nossos dias ruins, passamos por problemas e atravessamos os nossos
períodos de crise, de modo que, ao doutrinar as relações humanas à
cartilha comercial, os pontos baixos da vida de um indivíduo são
desconsiderados, o que implica automaticamente a descartabilidade
daqueles que sucumbem às suas fraquezas.
Sendo assim, somos tão
somente importantes e amados na medida em que temos um sorriso no rosto,
uma história engraçada para contar e somos úteis de algum modo. Em
outras palavras, somos queridos apenas nos nossos bons momentos, quando
estamos no auge e tudo parece dar certo. Entretanto, como disse, a vida
não é uma constante, de maneira que inevitavelmente passaremos por
momentos ruins, em que tudo dá errado e nós perdemos a esperança.
Nesses
instantes, percebemos a fragilidades dos laços humanos e a nossa
indiferença, a nossa incapacidade de se colocar no lugar do outro e
buscar entender o porquê do sofrimento, da angústia, da insônia, do medo
e da lágrima oculta no olhar, porque quando uma relação é construída
com laços fortes, lutamos contra o egoísmo para poder sentir a dor que
aflige e esmaga o peito de quem sofre.
Quando uma relação é mais
do que uma ação na bolsa de valores do amor líquido, temos empatia e
esta não é ver uma pessoa triste e fazer coisas para que ela fingir
estar feliz. É ver uma pessoa triste e ser capaz de ajudá-la a chorar.
Acho
que os nossos tempos estão carentes de pessoas corajosas o bastante
para abraçar alguém e dizer que a ama enquanto as lágrimas se precipitam
e anunciam uma torrente de dor em forma de choro intercalada com
soluços. Por outro lado, o mundo está repleto de pessoas que abraçam e
riem junto com você, mas, tão somente enquanto você também estiver com
um sorriso no rosto. Pessoas que descartam as outras com imensa
facilidade quando outras ações, digo, pessoas, acenam com possibilidades
melhores e sorrisos mais audaciosos.
Tudo isso é uma pena,
porque, no fim das contas, todos nós precisamos de alguém que nos ajude a
chorar, já que só lágrimas de compaixão podem limpar a alma da
indiferença. E como as lágrimas não caem, porque estamos ocupados demais
com nossas trivialidades mesquinhas, o mundo continua sujo, ecoando
pelos esgotos a nossa era da indiferença.
Por : Erick Morais
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