A força da ancestralidade
Como dissolver antigas mágoas, desavenças e nós energéticos envolvendo a relação com nossos antepassados
Texto: Liane Alves
Você já pensou em colocar as fotos de seus antepassados junto com as imagens dos santos e divindades de sua devoção no altarzinho de sua casa? Ou, então, dedicar a eles orações, missas ou práticas espirituais? Caso tenha antigas mágoas provocadas por algum deles, já experimentou perdoá-los num ritual simbólico? Pois todas essas práticas de reverência e perdão aos antepassados fazem parte de muitas culturas tradicionais, como a chinesa ou japonesa, ou dos costumes dos povos indígenas de muitos países. Se honrar e prestar homenagem aos seus ancestrais nunca passou pela sua cabeça, já é hora de se perguntar se a força deles influi em sua vida.
Hoje em dia, a reverência à ancestralidade não acontece mais apenas
como herança de antigas tradições. A sua força também é reconhecida em
terapias criadas recentemente, como a das Constelações Familiares,
idealizada pelo ex-padre alemão Bert Hellinger, e baseada nas teorias do
físico americano Rupert Sheldrake sobre física quântica. De acordo com
Sheldrake, vivemos mergulhados num vibrante oceano de energia que se
comunica entre si. Dessa maneira, podemos acessar diversos campos
vibratórios (que ele chama de campos morfogenéticos ou campos de memória
coletiva) que interagem conosco. Isso significa, segundo essa
interpretação, que os campos de informação de energia dos antepassados
continuam ainda presentes, vivos e atuantes em nossa vida. “O passado
influencia nossos padrões de pensamento, decisões, emoções e atitudes”,
diz Irene Cardotti Boccalandro, especialista na terapia de Constelações
Familiares. Em outras palavras, recebemos a carga energética do jeito de
pensar, sentir e agir dos nossos antepassados. E esse sistema de
energia herdado pode estar em equilíbrio ou em desequilíbrio, em ordem
ou desordem. Muitas das cerimônias espirituais dedicadas aos mortos nas
mais variadas tradições são realizadas para devolver a harmonia a ele.
Dentro da linha indígena brasileira, o índio Kaká Werá Jecupé, grande
instrutor espiritual que trabalha com a tradição tupi, também realiza
cerimônias para a purificação ancestral. Participei de um ritual com
Kaká e um grupo de 30 pessoas no ano passado. Durante quatro dias,
meditamos, passeamos pela natureza e fizemos cerimônias com grandes
fogueiras, onde nossas mágoas e dores foram escritas em pequenos papéis
posteriormente jogados ao fogo. O trabalho todo foi perceber
conscientemente o tipo de influência energética que recebemos dos nossos
antepassados. Os imigrantes europeus, por exemplo, que chegaram ao
Brasil fugindo da fome e prontos a encarar um trabalho árduo podem ter
transmitido a memória energética de penúria aos seus descendentes ou a
noção de que o dinheiro só chega depois de muito sofrimento e esforço.
Se for esse o caso, portanto, é preciso escrever para que esse padrão
seja transformado em fluidez, alegria e abundância e queimar o papel no
fogo. Mantras, danças e músicas podem ajudar a dissolver essas crenças.
Também já participei de trabalhos com a terapia de Constelações
Familiares. Você escolhe algumas pessoas de um grupo para representá-lo,
e outras para interpretar seus pais, avós ou ancestrais que podem estar
influindo na sua questão pessoal de agora. Essas pessoas, sem saber de
quase nada, passam a agir e a falar como se realmente fossem seus
familiares, quase que por magia. A explicação, fundamentada na teoria do
americano Rupert Sheldrake, é a de que qualquer um pode acessar a
memória de alguém que viveu no passado (ou mesmo no presente) e passar a
agir de acordo como se fosse essa pessoa. A intenção final da terapia é
a de dissolver os nós de energia ancestrais. Dessa maneira, nosso
próprio sistema energético atual passaria a funcionar melhor, de acordo
com Bert Hellinger, o criador do método.
Mas mesmo se você não participar de uma cerimônia ou de um círculo
terapêutico que envolva seus antepassados, já é uma boa ideia começar
agora a considerar seus ancestrais nos seus altares e orações. Eles
podem estar, assim como você, precisando muito disso.
fonte : casa.abril.com.br
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