quinta-feira, 1 de março de 2012

O Louco - Kahlil Gibran



'Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:
um dia, tempo antes
de muitos deuses terem nascido,

despertei de um sono profundo e notei
que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas -
as sete máscaras que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas -
e corri sem máscara
pelas ruas cheias de gente, gritando:
"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim
e alguns correram para casa,
com medo de mim
E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma casa
gritou: "É um louco!".
Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez,
o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se
de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.

E, como num transe, gritei:
"Benditos, bendito os ladrões
que roubaram minhas máscaras!" 
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade
como segurança em minha loucura:
a e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele desigual que nos compreende
escraviza alguma coisa em nós.'


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