domingo, 11 de setembro de 2011

PSICOACÚSTICA: SONS QUE CURAM

PSICOACÚSTICA:  SONS QUE CURAM


por Karin Veronnica Teixeira Silva - karinveronica@uol.com.br

Rituais do som
1) Os esquimós do leste da Groenlândia oriental resolvem suas desavenças com tambores e uma canção, que eles usam para descarregar sua raiva contra o inimigo.
2) As mulheres das tribos da Nova Guiné cantam canções de luto para lamentar a morte dos entes queridos.
3) Na Grécia antiga, em Roma e no Egito os sacerdotes dos templos cantavam enquanto curavam os enfermos.
4) Nas Ilhas Alentas conta-se a história de uma jovem cujo canto ressuscitou um homem que havia morrido.
5) Os Apaches marcam as passagens da vida de uma mulher, desde a infância até a maternidade, cantando canções.
6) As mulheres da Finlândia cantam ao "Espírito da Dor" para reduzir o sofrimento por ocasião do trabalho de parto.
7) Entre os pueblos do Novo México parte do ritual do parto requer que a mulher que esteja dando a luz, saúde o bebê com uma canção.
8) No leste da África as canções desempenham um papel fundamental na cerimônia de batismo.

Os rituais sagrados que envolvem música, canções e dança podem ser úteis para persuadir aqueles que estão doentes ou infelizes a transcenderem suas resistências. O oncologista Mitchell Gaynor tem usado, na sua atividade clínica, esses rituais, sejam do presente ou do passado, do Oriente ou do Ocidente, para desenvolver uma abordagem de cura em relação ao som e à música que contorna as defesas psíquicas das pessoas e as ajuda a se envolverem emocional e espiritualmente com sua doença e com seu processo de recuperação.

Uma das tradições mais poderosas é do xamanismo. Muitos americanos confundem curadores xamãs com charlatanismo espiritual. Os xamãs usam sons regulares e repetitivos produzidos por batidas de tambor e chocalhos para entrar num estado de consciência que permite que eles e seus pacientes empreendam uma jornada mental que os conduzirá de volta à saúde.

Michael Harner, um dos maiores especialistas do mundo em xamanismo, descreve em seu livro "O caminho do xamã", a batida monótona e regular do tambor que age como uma onda portadora; primeiro para ajudar o xamã a entrar no EXC (estado xamânico de consciência) e, então, para ampará-los em sua jornada.

Andrew Neher (pesquisador, 1960) estudou os efeitos que as batidas de tambor à moda dos xamãs produziram sobre o sistema nervoso central e descobriu que o ritmo regular alterava a atividade de "muitas áreas sensoriais e motoras do cérebro que comumente não são afetadas...". Neher supôs que isso estivesse acontecendo porque as diversas frequências presentes numa única batida de tambor podem estimular diversos caminhos neurais no cérebro. Além disso, o cérebro pode receber uma quantidade maior de estímulos de baixa frequência normalmente produzidos por um tambor porque os receptores de baixas frequências dos ouvidos são mais resistentes a danos do que os receptores de alta frequência, podendo suportar maiores amplitudes sonoras antes que esses estímulos possam produzir dor.

Wolfang Jilek pesquisou sobre danças xamânicas na tribo Salish, no noroeste dos Estados Unidos. Jilek descobriu que a faixa de frequência normalmente envolvida (a faixa de ondas tetas) era aquela que se "esperava ser a mais efetiva na produção de estados de transe".

A passagem de um estado de consciência comum para o estado xamânico de consciência também é facilitado pelas "canções de poder" cantadas pelo xamã. As canções, que na maioria das vezes consistem de uma melodia simples e uma batida repetitiva, podem influenciar o sistema nervoso central de forma muito semelhante ao modo como a respiração profunda da yoga pode reduzir a frequência cardíaca, quando uma pessoa entra em transe.

Rudolf Steiner, educador e filósofo alemão, comparou a doença física a um piano desafinado. Imagine, portanto, o que temos a ganhar usando os sons para criar um instrumento de afinação que nos permita sermos ao mesmo tempo agentes e receptores da cura.

A interação e o equilíbrio necessários para fazer música agem como um reflexo da interação harmoniosa entre os sistemas nervoso, endócrino e imunológico num corpo sadio. Os xamãs sabem disso há séculos. Nós talvez estejamos começando a aprender a lição.

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