Fui ver o mar. Gosto do mar quando a praia está vazia da perturbação
humana; nas tardes, de manhã cedo. A areia lisa, as ondas que quebram
sem parar, a espuma, o horizonte sem fim.
Que grande mistério é o mar!
Que cenários fantásticos estão no seu fundo, longe dos olhos! Para
sempre incognoscível! Pense no mar como uma metáfora de Deus. Se tiver
dificuldades leia a Cecília Meireles; Mar Absoluto.
Faz tempo que, para
pensar sobre Deus, eu não leio teólogos; leio os poetas.
Pense
em Deus como um oceano de vida e bondade que nos cerca. Romain Rolland
descrevia seu sentimento religioso como um “sentimento religioso”. Mas o
mar, cheio de vida, é incontrolável.
Algumas pessoas têm a ilusão que é
possível engarrafar Deus. Quem tem Deus engarrafado tem o poder. Como
na estória de Aladim e a lâmpada mágica. Nesse Deus eu não acredito. Não
tenho respeito por um Deus que se deixa engarrafar. Prefiro o mistério
do mar…
Rubem Alves, meu poeta preferido.
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