Escolas ensinam a lidar com as emoções
No
fim do ano, escolas não esperam que os alunos tenham aprendido só a
fazer contas, interpretar um texto ou saber o nome dos Estados
brasileiros.
Colégios particulares e da rede estadual de São
Paulo estão adotando estratégias para que desenvolvam habilidades
socioemocionais, como cooperação, empatia, senso crítico e curiosidade.
"Essas
habilidades estão intimamente ligadas às cognitivas. São elas que
potencializam e aprofundam o aprendizado. A escola que decide trabalhar o
lado socioemocional precisa mudar a sua estrutura, suas aulas. Porque
esse não é um trabalho intuitivo, ele precisa ser planejado", observa
Márcia Almirall, orientadora pedagógica do Colégio Santa Maria, na zona
sul de São Paulo.
No ano passado, a escola capacitou os
professores para que as práticas pedagógicas fossem alteradas em sala de
aula. Para os alunos do fundamental 1 (do 1º ao 5º ano), as carteiras
foram alteradas para facilitar o trabalho em grupo. Os docentes também
são estimulados a darem aula em locais diferentes, como no pátio ou no
jardim.
"Em todas as disciplinas é possível desenvolver as
habilidades socioemocionais, se nos planejarmos. Então, nas aulas de
matemática, todos trabalham em grupos. Em português, fazem rodas de
conversa para discutir a disciplina. Em tudo dá para trabalhar, se
soubermos estimular os alunos da maneira correta", afirma Márcia.
O
ensino socioemocional foi adotado em 2015, de forma experimental, em 17
escolas da rede estadual. Para este ano, o número subiu para 145, todas
com período integral e ensino fundamental 1. "Estamos consolidando a
ideia de que não é possível fazer um bom trabalho sem focar nessas
habilidades (socioemocionais). Com o tempo, esse projeto vai ser
ampliado para todas as unidades", diz Ghisleine Trigo, coordenadora de
gestão da Educação Básica da Secretaria Estadual de Educação.
Suporte
A
ideia ao desenvolver habilidades socioemocionais nas crianças é dar
ferramentas para que consigam lidar da melhor forma em situações de
conflito e assim reduzir a vulnerabilidade dos estudantes. A escola
estadual Professora Irene Ribeiro, na Vila Carrão, zona leste, foi uma
das que recebeu o projeto no ano passado. Todos os professores foram
capacitados para o novo modelo, aplicado em todas as disciplinas.
Elaine
Carapiá, que dá aula para o 3ºano, conta que as mudanças fizeram com
que o professor se tornasse uma peça menos central na sala de aula e
mais um mediador para que os alunos tivessem mais espaço para tirar
dúvidas e aprender com os colegas. As aulas também falam sobre os
sentimentos e como lidar com eles.
"Eles vivenciam situações
muito difíceis em casa que podem impactar o aprendizado. Outro dia um
estudante disse que os pais estavam brigando e jogaram as alianças no
lixo. O menino, de 7 anos, começou a cantar e aconselhou os pais a se
acalmarem. Ele aprendeu na escola que, quando se está nervoso, é
importante respirar e disse isso para os pais em um momento de
conflito", relata Elaine.
Em todo início de aula, os alunos se
sentam em uma roda para falar como estão se sentindo. Segundo ela, é
importante estimular as crianças a se expressarem para ganhar confiança.
"Mudamos muita coisa. Não temos mais apenas uma relação entre aluno e
professor, mas entre seres humanos."
Preconceito
No
colégio Pio XII, na zona oeste, os adolescentes do ensino fundamental 2
(do 6º ao 9º ano) têm uma vez por semana uma aula em que são estimulados
a trabalhar com as emoções e a abordar temas em que podem ter
preconceitos. A disciplina utiliza dinâmicas em grupo e exercícios em
que a turma conta histórias ou assiste a filmes sobre temas como a morte
ou as drogas.
"Percebemos que, quando eles entendem o que sentem
nas mais diversas situações, se tornam mais tolerantes, prestativos,
têm mais empatia com os colegas", afirma a psicóloga e professora
Patricia Prado.
Para ela, como as crianças passam a maior parte do
tempo no colégio e desenvolvem as primeiras relações sociais no
ambiente escolar, é responsabilidade dos colégios não só transmitir
conhecimento, mas também valores morais e éticos. "Além disso, um aluno
que possa ter problemas em casa ou em se relacionar com os colegas, e
não sabe como lidar com essas situações, vai ter queda no rendimento
escolar."
No colégio Eduque, na zona sul da capital, estudantes do
ensino fundamental 1 também contam com aulas voltadas para essas
habilidades, uma vez por semana. Com livros e histórias, os professores
desencadeiam discussões sobre as emoções.
"Com repertórios leves e
lúdicos, ensinamos a entender o que é sentir raiva, tristeza, solidão,
felicidade. Com esse conhecimento, eles se tornam mais respeitosos e
compreensivos com os colegas", observa a coordenadora pedagógica
Lucelena Martins de Souza.
Ao abordar esses temas, Lucelena
considera que os docentes abrem um canal de confiança e diálogo com os
alunos. "Quando eles têm um problema, sabem que podem contar para nós,
que vamos ajudar. Assim, ninguém fica excluído ou sem a atenção devida."
As informações são do jornal O Estado de
S. Paulo.
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