...O amor mora num outro lugar: as palavras. Por isso que o Milan Kundera
diz que começamos a amar uma mulher no momento em que ligamos seu rosto a
uma metáfora poética. Amamos uma pessoa pela poesia que vemos escrita
no seu corpo.
Bem diz a Adélia Prado que “erótica é a alma”. Estranho
isso, porque se pensa que o amor mora é no corpo e até se dá o nome de
“fazer amor” a união de dois corpos. Mas o corpo é como a flauta, o
órgão, o violão, o violino – coisa que só fica bonita quando dele sai
música. Amamos um corpo pela música que nos faz ouvir. Conheço muito
piano fechado, desafinado, importado, que ninguém sabe tocar, mas que dá
um toque
de elegância ao ambiente. Quem tem um piano deve ser sensível. E, no
entanto, não se sabe distinguir um acorde maior de um menor.
Amamos
uma pessoa pelas palavras que a ouvimos dizer, por vezes em silêncio.
Mesmo quando se está “fazendo amor” – muito bom, prazer enorme no corpo.
Até os bichos sabem disso e ficam alucinados quando o corpo berra. Mas
logo se esquecem depois do prazer. Certo: às vezes também nós somos
bichos. Mas o prazer (curto) se transforma em alegria quando além do
prazer que o corpo sente, a alma ouve as palavras que moram dentro dos
olhos: “Como é bom que você existe.
O universo inteiro fica luminoso,
por sua causa. Vou chorar quando você se for. Terei saudades. Ficarei
com um pedaço arrancado de mim. Será triste. Tristeza que não
abandonarei por nada, pois ela marca a sua presença, que se foi.”. Não,
não é o prazer que se sente no corpo, é a alegria que se sente na alma. A
gente se sente bonito. O outro é um espelho onde nos contemplamos, e
nos seus olhos a nossa imagem se transfigura, e é como se fôssemos
deuses. Não há prazer no corpo que resista a um espelho mau.
Mas, aí, sem que se saiba por que, a gota de chuva cai, o vento se
vai, e ficamos de mãos vazias. E só nos resta esperar. Como esperamos
que o ipê floresça de novo. As flores desapareceram, mas voltarão.
Amor é
isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. E
neste espaço o amor só sobrevive graças a algo que se chama fidelidade: a
espera do regresso. De alguma forma, a gota de chuva aparecerá de novo,
o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora. Morte e
ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino.
Quem
não pode suportar a dor da separação não está preparado para o amor.
Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de Graça. Aparece
quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta a alegria
volta com ele. E sentimos que valeu a pena suportar a dor da ausência,
pela alegria do reencontro.
RUBEM ALVES , MEU POETA PREFERIDO !!
integracaoholistica.blogspot.com
imagem : google
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