Descanse em paz meu querido poeta Rubem Alves. Obrigada por todas as palavras que sempre alegraram o meu coração.
( Uma homenagem à você que tanto gostava dos ipês amarelos)
( Uma homenagem à você que tanto gostava dos ipês amarelos)
Acho curriculum vitae uma coisa boba. Sei que os burocratas sem eles se
sentiriam perdidos. Por amor aos burocratas e curiosos fiz uma
concessão: coloquei o meu na minha homepage. Mas lhe dei um nome novo.
Curriculum, em latim, quer dizer pista de corrida. Um curriculum vitae
é, assim, uma enumeração dos lugares por onde se passou, na correria da
vida. As coisas que eles registram não existem mais.
O que é passado
está morto. Assim, na minha homepage, ao invés de curriculum vitae eu
escrevi curriculum mortis, porque eu não sou o meu passado. Eu sou o meu
agora. De um pianista que vai iniciar o seu concerto não se espera que
ele diga os nomes dos professores com quem estudou... Dele só se espera
uma coisa: que se assente ao piano e toque...
...Ao final de uma entrevista o entrevistador me fez a última pergunta:
“Como é que o senhor se definiria?”
Fui pego de surpresa. A resposta
teria de ser curta. Lembrei-me da frase que o poeta Robert Frost
escolheu para seu epitáfio: “Ele teve um caso de amor com a vida...”
Encontrei minha definição em mim mesmo. Respondi: “Eu tenho um caso de
amor com a vida...”
Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava a
escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos
acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele
perguntou à criançada: “E quem é Rubem Alves?” Um menininho respondeu:
“O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...” A resposta do
menininho e deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são o
que elas amam. Descartes afirmou: “Penso, logo existo”. Eu inverto
Descartes e digo: “Amo, logo existo”. Mas o menininho não sabia que sou
um homem de muitos amores... Amo os ipês, mas amo também caminhar
sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a
passear. E como eles gostam! Eles têm fome de ver. Encantam-se com
tudo...
...Escrever é minha grande alegria!...
...Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço
fotografias com palavras. Diferentes dos filmes que exigem tempo para
serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são
fotografias. Escrevo para fazer ver. Uma das minhas alegrias são os
e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da
leitura lendo meus textos...
...Não tenho medo da morte. O que sinto é tristeza. O mundo é muito
bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é meu jeito de ficar por
aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem
sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...
Ana Lúcia do Carmo.
integracaoholistica.blogspot.com
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