terça-feira, 13 de novembro de 2012

Medicina chinesa e a energia vital


por Dra Ana Clélia Mattos
anacleliamattos.med.br

A proposta desta breve comunicação é refletir com vocês sobre saúde, sobre estado de equilíbrio físico, mental, emocional e espiritual. Isto existe de fato? É possível?
Retomaremos, do ponto de vista chinês, as eternas questões que, desde sempre, estão (ou deveriam estar...) na base de toda medicina: Como cada um de nós se sente neste momento? Saudável? Sem dores? Alegre? Em paz? Sereno? Feliz? Como alcançar o equilíbrio físico, mental , emocional e espiritual tão almejado?
Em nossa perspectiva , para começar, é necessário tentar entender o fluido energético que percorre o nosso corpo e está presente na natureza e em todo o universo. Não podemos ter saúde se não estivermos fluindo energia de modo regular e pleno. Como isso se dá? Lemos num clássico taoísta:
Todo o nascimento é uma condensação; toda morte, uma dispersão da matéria. O nascimento não é um ganho, a morte não é uma perda... Condensada a matéria, sobrevém um ser; rarefeita, será o substrato das mutações.” (Zhuang Zi, Nan Hua Jing)
A milenar cultura chinesa guarda segredos ainda não revelados; parte deles o Ocidente já aprendeu; outros ainda permanecem reservados a um restrito círculo. Segundo os chineses, na hora da fecundação uma energia, chamada de energia ancestral, penetra no corpo e desse fluido gera-se todo o restante; daí surgem todos os órgãos. Se uma pessoa nasce com a essência lesada, recebe uma essência que não está adequada e o primeiro efeito é o retardo no fechamento da sua fontanela, demora para andar; os ossos, os dentes e os cabelos serão frágeis.
Para a tradição chinesa, todos os canais de energia, todos os órgãos do corpo começam no rim. A sede do espírito, no momento da fecundação, é o rim. Eles dizem que temos três rins. Um rim filtrador, um reprodutor e um chamado de portão da vitalidade (que alberga a energia vital).
Na perspectiva da medicina chinesa, o homem é um ser funcional no qual o relacionamento de cada órgão com o meio, exterior e interior, resulta num tipo específico de fluido. Os meridianos são caminhos interligados construídos pelos respectivos órgãos para que o Qi (energia) e os fluidos percorram todo o corpo. Os meridianos fazem com que os órgãos e as substâncias se comuniquem entre si e põe ainda o interior em contato com o exterior. A energia, o fluido, pode estar na forma de: Qi, Essência, Sangue, Espírito e Líquidos orgânicos; cada um com sua peculiaridade.
O início do Qi e do fluido vital nasce com o indivíduo e provém da energia ancestral. A energia ancestral, oriunda dos antepassados, vem com a fecundação e se aloja nas células que serão o futuro rim direito do feto. Energia ou Qi ancestral ou primordial é, segundo os chineses, a quantidade de energia que fará a pessoa viver 20, 50, 80 ou 100 anos . É imutável, não renovável e vai sendo usada e gasta lentamente ao longo da vida: desde a concepção e nascimento, nas fases de crescimento, desenvolvimento, amadurecimento, idade adulta, etc. Portanto, a quantidade de Qi com que o indivíduo nasce é suficiente para toda sua vida. Em situações de trauma emocional violento, como no caso de morte de entes queridos, situações de assalto, acidentes graves etc., gasta-se o Qi ancestral rapidamente e o indivíduo perde dias ou anos de vida, envelhecendo de modo mais veloz. Existem, porém, outras fontes de energia ou Qi renováveis diariamente que vêm dos alimentos, respiração, exercícios físicos, meditações, sono, etc.; esse Qi é abastecido a cada 24hs e se aloja no rim esquerdo do indivíduo. Em situações de forte fadiga e stress prolongados, gasta-se demais a energia captada pelo rim esquerdo, obrigando o organismo a lançar mão da energia do rim direito (a ancestral), levando ao envelhecimento precoce e adoecimentos como: falta de memória, fibromialgia, problemas ósseos articulares, auditivos, baixa imunidade, cabelos brancos, dentes fracos culminando com medos, impaciência e muito cansaço.
A partir dos rins, saem todos os canais de energia fluídica que compõem o nosso corpo; os chamados meridianos não são vasos sanguíneos e nem linfáticos, mas canais não visíveis sutis, virtuais, que percorrem caminhos de cima a baixo no organismo, levando fluido energético capaz de fazer funcionar todos os mecanismos celulares e teciduais. É a energia que flui e anima o corpo, que o faz movimentar, pulsar, é enfim o chamado FLUÍDO VITAL, descrito por médicos, como, Samuel Hahnemann (o pai da Homeopatia) e por mestres e pensadores orientais.
A doença vem do desequilíbrio da energia ou fluido vital, causada por fatores emocionais, ambientais ou até espirituais que afetam os meridianos de circulação de energia, ocasionando os sintomas físicos e emocionais aparentes. Portanto, a cura da chamada “doença” vem da reorganização e equilíbrio do fluido vital, obstruído nos meridianos de energia. A visão do médico holístico é diferente, pois tenta sentir, observar e diagnos-ticar o desequilíbrio como um todo; tenta fazer voltar o fluido vital ao seu estado de normalidade através de ações no corpo físico, como medicamentos homeopáticos, fitoterápicos, acupuntura, e também propostas de tratamentos psicopterápicos, energéticos, como Reiki e diversas outras formas de reequilíbrio vital. São feitas 67 orientações também para que o indivíduo procure um caminho espiritual próprio de acordo com suas crenças e convicções. Essas ações não excluem, muitas vezes, a prescrição de medicamentos alopáticos bem indicados e organizados de uma forma não antagônica, que não atrapalhe o retorno da energia vital ao seu estado de normalidade. Por tudo isso, defendemos a MEDICINA INTEGRATIVA, que une as medicinas oriental e ocidental, de forma que o melhor seja feito ao paciente.
Os fluidos vitais adquirem as propriedades do meio externo, ou seja, sofrem a influência das emoções, desejos e das aspirações. A pureza absoluta é o ponto de partida do fluido vital universal; o ponto oposto é sua transformação em matéria tangível, palpável. Entre esses dois extremos acontecem inúmeras transformações entre o que chamamos de saúde e doença. A Medicina Holística é filosófica, sintética, espiritual, individual, subjetiva e natural. A causa da doença tem menos importância, pois a cura é baseada na reforma do caráter e do comportamento através de ações opostas à causa da doença: ações que diluem os fluidos deletérios. Os fluidos adquirem as propriedades do meio, ou seja, sofrem a influência das emoções, dos desejos e das aspirações. A partir desse posicionamento, pensar de modo holístico, a proposta é ajudar cada um a pensar em sua vida no seu todo: nos seus sentimentos, emoções, alegrias e frustrações, raivas e tristezas. E fazer algo para mudar, a partir de uma conscientização que leva cada um a cuidar melhor de si, deixar fluir o Qi e reorganizar sua energia vital.
Naturalmente, a postura holística aplica-se também no sentido da famosa sentença de Ortega y Gasset:
eu sou eu e minha circunstância”:
se eu melhoro, melhoram também os que estão a meu redor e o meu ambiente, humano e físico. Daí que o diálogo médico-paciente, transcende (e não exclui), digamos assim, o recorte da mera dimensão bioquímica, as baterias de exames e seus resultados numéricos etc. a que costuma se ater a medicina ocidental. E deve incluir a totalidade corpo-espírito.

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