segunda-feira, 10 de outubro de 2011

IMPERMANÊNCIA


Reflita sobre isto: a realização da impermanência é paradoxalmente a única coisa que podemos manter, talvez nosso bem último. É como o céu ou a terra. Não importa quanto tudo mude ou se dissolva à nossa volta, a terra e o céu permanecem. Suponhamos que nos envolva uma profunda crise emocional... ou toda nossa vida esteja desabando... ou que a pessoa amada vá embora sem qualquer aviso. A terra e o céu estão lá, onde estiveram sempre. É claro, mesmo a terra treme uma ou outra vez, para nos lembrar que nada é certo ou garantido...

Até Buda morreu. Sua morte foi um acontecimento para chocar o ingênuo, o indolente, o complacente, despertando-nos para a verdade de que tudo é impermanente...

Toda interação subatômica consiste na aniquilação das partículas originais e na criação de novas partículas subatômicas. O mundo subatômico é uma dança sem fim de criação e aniquilação, de matéria transformando-se em energia, e de energia transformando-se em massa. Formas transitórias faíscam dentro e fora da existência, engendrando uma realidade sem fim, para sempre recriada.

O que é nossa vida senão uma dança de formas transitórias? Não está tudo sempre mudando: as folhas nas árvores do parque, a luz em seu quarto enquanto você lê este livro, as estações, o clima, as horas do dia, as pessoas passando por você na rua? Os amigos com os quais crescemos, os fantasmas de nossa infância, o pontos de vista e opiniões que uma vez defendemos com tamanha e sincera paixão: deixamos tudo isso para trás. Agora, neste instante, ler este texto parece a você vividamente real. Mas estas mesmas palavras não serão, dentro em pouco, mais que uma lembrança.

As células do nosso corpo estão morrendo, os neurônios do nosso cérebro estão se deteriorando. Até a expressão em nosso rosto está sempre mudando, dependendo do nosso humor. O que nós chamamos de nossa personalidade básica é apenas um “fluxo mental”, nada mais. Hoje nos sentimos bem porque as coisas estão indo bem; amanhã sentiremos o contrário. Para onde foi esse sentir-se bem? Novas influências tomaram conta de nós à medida que as circunstâncias mudaram: somos impermanentes, as influências são impermanentes, e não há em parte alguma algo sólido ou duradouro a ser apontado.

O que pode ser mais imprevisível do que nossos pensamentos e emoções: você tem qualquer idéia do que vai pensar ou sentir nos próximos minutos? Nossa mente, de fato, é tão vazia, tão impermanente e transitória quanto um sonho. Olhe para um pensamento, como ele vem fica e vai. O passado é o passado, o futuro ainda não surgiu, e mesmo o pensamento presente, como nós o experimentamos, torna-se logo o passado.

A única coisa que realmente temos é o presente, é o agora.
Texto extraído de “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer” de Sogyal Rimpoche.





A compreensão da impermanência nos proporciona confiança, paz e alegria. A impermanência não conduz obrigatoriamente ao sofrimento. Sem a impermanência, a vida não existiria. Sem a impermanência a sua filha não cresceria e se tornaria uma linda mulher. Sem a impermanência os regimes opressivos nunca mudariam. Mas nós achamos que a impermanência nos faz sofrer. O Buda deu o exemplo do cachorro que foi atingido por uma pedra e ficou zangado com a pedra. Não é a impermanência que nos faz sofrer, mas sim o desejo de que todas as coisas sejam permanentes, quando na verdade não são.
Devemos aprender a apreciar o valor da impermanência. Se temos boa saúde e consciência da impermanência, vamos cuidar de nossa saúde. Ao saber que a pessoa que amamos é impermanente, daremos mais valor a ela. A impermanência nos ensina a respeitar e valorizar cada momento de nossa vida, bem como todas as coisas preciosas que estão ao nosso redor e dentro de nós. Quando praticamos a atenção plena à impermanência, sentimo-nos mais renovados e mais amorosos.

Thich Nhat Hanh em "A essência dos ensinamentos do Buda".  

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