sábado, 2 de maio de 2015

"Corridinho" - Adélia Prado




O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.

O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.


O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.


Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua presença,
chupa bala de hortelã.


Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.


Mas água o amor não é.


integracaoholistica.blogspot.com

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