Por Martha Medeiros
Jornal ZERO HORA – 10/04/2013
Pratico exercícios desde sempre. Já dancei jazz, nadei, joguei vôlei,
fiz aeróbica, musculação, mas nada disso me tornou uma amante da vida
esportiva. O que me levava a essa movimentação intensa era a consciência
de que manter uma atividade física enrijece o corpo e oxigena a mente,
então eu ia em frente sem pensar em prazer. Era uma necessidade, e
pronto.
Aos poucos, fui largando tudo e mantive apenas as caminhadas, essas,
sim, não apenas saudáveis, como prazerosas. Poderia passar o dia
caminhando, não tivesse que reservar um tempo para exercícios cerebrais,
como trabalhar e fazer palavras cruzadas.
Parecia tudo bem, até que uma médica me disse: caminhar é bom, mas não basta. Está na hora de você suar o top. E me recomendou pilates.
Modismo, chatice, tédio. Todas essas ideias me passaram pela cabeça,
mas sou obediente, acato ordens, e me matriculei num pequeno estúdio a
poucos passos da minha casa, conduzido por um casal de instrutores. Fui
cair na mão dos melhores, posso apostar. Em três sessões, já percebia mudanças no meu corpo, na minha postura.
Quanto ao tédio, bom, não há tédio na dor. Às vezes, me sinto como se
estivesse treinando para me apresentar no Cirque du Soleil. Recebo
ordens inimagináveis: grude o umbigo nas costas, encolha as costelas,
encoste o queixo no peito. Já houve caso de instruírem um rapaz a
contrair o útero! Dá vontade de rir, mas não convém, temos que nos
concentrar na respiração. Juro, com tudo isso, ainda pedem que a gente
respire.
Então, de volta aos exercícios sem prazer?
Pois aí está a novidade: o prazer é de outra ordem. O pilates faz a gente mudar a maneira de pensar o corpo,
o que deve ser a razão do seu sucesso mundo afora. Ao decidir praticar
um exercício, muitas vezes ficamos condicionados aos benefícios externos
de se estar em forma: a saúde é uma boa desculpa, mas a vaidade é que
nos faz pagar a mensalidade da academia. Pois o pilates supera essa
visão miúda, adicionando à prática uma reflexão que vai muito além do
desejo de ser admirado.
Quando somos adolescentes, sentimos nosso corpo como parte
indissolúvel do nosso ser. Porém, com o passar do tempo, acaba
acontecendo uma dissociação – à revelia, nosso corpo começa a nos
abandonar, a nos deixar na mão. A pele vai se soltando, os órgãos
internos armam rebeliões, as articulações gritam, rangem – não me peça
para explicar, mas nosso corpo ganha vida própria, se emancipa e não nos
escuta mais.
O pilates é, antes de tudo, uma reconciliação com esse corpo que se
tornou rebelde e fugidio. Ele sempre esteve a nosso serviço, mas pouco
estivemos a serviço dele. Pois o pilates, feito um cupido, faz com que
nós e nosso corpo passemos a nos conhecer mais profundamente e a
descobrir o que nem sabíamos um do outro, mesmo com tantos anos de
convívio.
Basicamente, pilates é o resgate do amor entre você e o que você traz dentro. Mesmo que seja um útero que você nem tem.
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