Algumas coisas são inexplicáveis pra quem está de fora.
Existem códigos secretos que só pertencem aos que partilharam a mesma mesa, o mesmo quarto, as mesmas brincadeiras, os mesmos pais.
Talvez cumplicidade e camaradagem sejam as palavras certas pra definir esse tipo de amor, que começa com um "não me entrega que eu também não te entrego", e segue vida afora compreendendo os traumas ocultos, as dores disfarçadas, a raiva acumulada, a alegria infantil, a inércia justificada.
Mesmo longe, as mãos se reconhecem e se apoiam.
Mesmo sem palavras, o entendimento é real. E no fim das contas, é aquele olhar cúmplice ("não me dedura por favor...") que nos levanta e aquece.
É aquele olhar que justifica e valida a beleza da vida, do mundo, das pessoas. E, de alguma forma que não sei dizer, traz alívio e paz.
Não posso imaginar que aquilo que dividimos há tanto tempo me apazigue como fazem essas lembranças.
Nada de mim está mais lá, apenas a memória de velhos pijamas de dormir e a voz suave de mamãe contando histórias pra explicar a vida e justificar o amor.
Fabíola Simões
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