sábado, 20 de maio de 2017

A Velhice - Por Rubem Alves

 









Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético. 
A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo. A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. 
As manhãs têm uma beleza única, que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs. A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa - talvez solitária. No crepúsculo tomamos consciência do tempo. 
Nas manhãs, o céu é como um mar azul, imóvel. Nos crepúsculos, as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo - tudo rapidamente. 
Ao sentir a passagem do tempo, nós percebemos que é preciso viver o momento intensamente. “Tempus fugit”- o tempo foge - portanto, “carpe diem”- colha o dia. 
No crepúsculo, sabemos que a noite está chegando. Na velhice, sabemos que a morte está chegando. E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única. 
Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos...

Rubem Alves, meu poeta preferido.

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