Augusto Cury, o famoso psiquiatra que
tem livros publicados em mais de 70 países e dá palestras para multidões
no Brasil e lá fora, lançou recentemente uma versão para crianças e
adolescentes do seu best-seller Ansiedade – Como Enfrentar o Mal do
Século. O autor conversou com a gente sobre os desafios de se criar os
filhos hoje e não poupou críticas à maneira como a família e a escola
têm educado os pequenos. Confira!
Excesso de estímulos
“Estamos
assistindo ao assassinato coletivo da infância das crianças e da
juventude dos adolescentes no mundo todo. Nós alteramos o ritmo de
construção dos pensamentos por meio do excesso de estímulos, sejam
presentes a todo momento, seja acesso ilimitado a smartphones, redes
sociais, jogos de videogame ou excesso de TV. Eles estão perdendo as
habilidades sócio-emocionais mais importantes: se colocar no lugar do
outro, pensar antes de agir, expor e não impor as ideias, aprender a
arte de agradecer. É preciso ensiná-los a proteger a emoção para que
fiquem livres de transtornos psíquicos. Eles necessitam gerenciar os
pensamentos para prevenir a ansiedade. Ter consciência crítica e
desenvolver a concentração. Aprender a não agir pela reação, no esquema
‘bateu, levou’, e a desenvolver altruísmo e generosidade.”
Geração triste
“Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva. Precisamos
ensinar nossas crianças a fazerem pausas e contemplar o belo. Essa
geração precisa de muito para sentir prazer: viciamos nossos filhos e
alunos a receber muitos estímulos para sentir migalhas de prazer. O
resultado: são intolerantes e superficiais. O índice de suicídio tem
aumentado. A família precisa se lembrar de que o consumo não faz ninguém
feliz. Suplico aos pais: os adolescentes precisam ser estimulados a se
aventurar, a ter contato com a natureza, se encantar com astronomia, com
os estímulos lentos, estáveis e profundos da natureza que não são
rápidos como as redes sociais.”
Dor compartilhada
“É fundamental que as crianças aprendam a elaborar as experiências. Por
exemplo, diante de uma perda ou dificuldade, é necessário que tenham
uma assimilação profunda do que houve e aprender com aquilo. Como
ajudá-las nesse processo? Os pais precisam falar de suas lágrimas, suas
dificuldades, seus fracassos. Em vez disso, pai e mãe deixam os filhos
no tablet, no smartphone, e os colocam em escolas de tempo integral.
Pais que só dão produtos para os seus filhos, mas são incapazes de
transmitir sua história, transformam seres humanos em consumidores. É
preciso sentar e conversar: ‘Filho, eu também fracassei, também passei
por dores, também fui rejeitado. Houve momentos em que chorei’. Quando
os pais cruzam seu mundo com os dos filhos, formam-se arquivos saudáveis
poderosos em sua mente, que eu chamo de janelas light: memórias capazes
de levar crianças e adolescentes a trabalhar dores perdas e
frustrações.”
Intimidade
“Pais que não cruzam seu mundo com o dos filhos e só atuam como manuais
de regras estão aptos a lidar com máquinas. É preciso criar uma
intimidade real com os pequenos, uma empatia verdadeira. A família não
pode só criticar comportamentos, apontar falhas. A emoção deve ser
transmitida na relação. Os pais devem ser os melhores brinquedos dos
seus filhos. A nutrição emocional é importante mesmo que não se tenha
tempo, o tempo precisa ser qualitativo. Quinze minutos na semana podem
valer por um ano. Pais têm que ser mestres da vida dos filhos. As
escolas também precisam mudar. São muito cartesianas, ensinam raciocínio
e pensamento lógico, mas se esquecem das habilidades sócio-emocionais.”
Mais brincadeira, menos informação
“Criança tem que ter infância. Precisa brincar, e não ficar com uma
agenda pré-estabelecida o tempo todo, com aulas variadas. É importante
que criem brincadeiras, desenvolvendo a criatividade. Hoje, uma criança
de sete anos tem mais informação do que um imperador romano. São
informações desacompanhadas de conhecimento. Os pais podem e devem impor
limites ao tempo que os filhos passam em frente às telas. Sugiro duas
horas por dia. Se você não colocar limite, eles vão desenvolver uma
emoção viciante, precisando de cada vez mais para sentir cada vez menos:
vão deixar de refletir, se interiorizar, brincar e contemplar o belo.”
Parabéns!
“Em vez de apontar falhas, os pais devem promover os acertos. Todos os
dias, filhos e alunos têm pequenos acertos e atitudes inteligentes. Pais
que só criticam e educadores que só constrangem provocam timidez,
insegurança, dificuldade em empreender. Os educadores precisam ser
carismáticos, promover os seus educandos. Assim, o filho e o aluno vão
ter o prazer de receber o elogio. Isso não tem ocorrido. O ser humano
tem apontado comportamentos errados e não promovido características
saudáveis.”
Conselho final para os pais
“Vejo pais que reclamam de tudo e de todos, não sabem ouvir não, não
sabem trabalhar as perdas. São adultos, mas com idade emocional não
desenvolvida. Para atuar como verdadeiros mestres, pai e mãe precisam
estar equilibrados emocionalmente. Devem desligar o celular no fim de
semana e ser pais. Muitos são viciados em smartphones, não conseguem se
desconectar. Como vão ensinar os seus filhos e fazer pausas e contemplar
a vida? Se os adultos têm o que eu chamo de síndrome do pensamento
acelerado, que é viver sem conseguir aquietar e mente, como vão ajudar
seus filhos a diminuírem a ansiedade?”
Fonte indicada: M de Mulher
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