Se observamos há algum tempo uma geração criada à base de leite e pêra, cercada de mimos, já era de se esperar que estes homens mimados uma hora se tornassem pais.
Frutos
de uma classe média zelosa e protetora, estes pais (e aqui me refiro
também às mães) agora exercem suas facetas mimadas no cuidado com os
filhos. Este comportamento egoísta e mesquinho passa a ser exacerbado e
levado ao extremo quando envolve crianças ditas inocentes, doces, meigas
e suaves.
Para os pais mimados que mimam será parte de sua missão
aqui na terra livrar seu filho de qualquer empecilho e obstáculo
natural e necessário, tal qual como tédio, bagunça, tio chato, normas da
sociedade, rituais da nossa cultura etc. Para um pai mimado, a vontade
do filho não precisa ter limites.
A seguir alguns dos principais comportamentos na relação que os pais mimados estabelecem com seus filhos.
Até a Veja já cantou a bola, mas a gente demora para mudar
Eles fazem da criança o centro da casa
Talvez uma das principais características dos pais que mimam seja o
fato de a rotina da casa ser adequada de acordo com as vontades da
criança. Cadeirão da comida na frente da televisão, horários não
determinados, cadeira distrativa para entreter o bebê, produtos,
acessórios, engenhocas específicas, tudo essencialmente voltado para
ele. E para a loucura da casa.
Em French Children Don’t Throw Food,
Pamela Druckerman conta o que faz das crianças francesas mais
comportadas. Entre pesquisas, entrevistas e exemplos, a autora mostra
que o fato dos pais franceses não tratarem as crianças como centro da
casa é essencial para que elas entendam que se adequarão a um modelo já
existente - e não o contrário! Tratar a criança como o centro da rotina
de toda a casa é a base de uma educação de mimados para mimados.
"Para a geração de meus avós e de meus pais, a vida dos adultos não devia ser decidida em função do interesse das crianças, até porque o principal interesse das crianças era sua transformação em adulto" --Contardo Calligaris
Eles acreditam que criança só come bife e batata frita
Por terem suas vontades tomadas como verdade absoluta, é claro que
estas crianças não comeriam o que os pais comem. Ou porque é temperado
demais, ou porque tem vegetais e uma vez ele recusou ou porque, veja só,
Pedrinho só come macarrão com manteiga, não aceita outra coisa.
Cada
vez mais comum nos restaurantes, o cardápio kids fica sempre entre
opções não muito criativas: macarrão, bife, batata frita. E se mesmo
assim a criança recusa o almoço, existe um leque de industrializados que
será oferecido em pouco tempo para que o pimpolho não passe fome:
bolacha, salgadinho, achocolatado, sucos açucarados...
Além de
nada saudável, isto é um alerta de mimo: criança come o que você ensina a
comer. É muito mais simples achar sabor num macarrão do que, de cara,
numa couve-flor.
Lição de casa para os pais que tendem a mimar: ler os escritos de Pat Feldman
a respeito dos pequenos e entender que o gosto pela comida é
construído. Conjuntamente, na mesa de refeição, estimulando que
experimentem, entendendo o apetite da criança e respeitando seu gosto.
Sempre ensinando que parte importante da refeição é o convívio com os
outros e demonstrando respeito pela comida que foi feita em casa e que
será a base da refeição de todos que por ali moram.
Eles não conversam, distraem
Filha do Louie
É
comum olhar para o lado no restaurante e encontrar uma criança
hipnotizada por um iPad. Ou no carro com iPod e fones, alheia às
interações do ambiente ou à ausência delas. Aliados dos pais mimados, as
engenhocas tecnológicas ajudam a criança a não se frustrar, não lidar
com o tédio de um restaurante repleto de adultos, de um carro sem
atrativos, de uma vida inteira que às vezes não tem grandes aventuras
mesmo.
Mas, ora, por mais que pais se esforcem para preencher este
vazio intrínseco aos filhos, ele não será preenchido. Proteger um filho
é uma missão fadada ao fracasso, já atestou Eliane Brum.
Eles não confiam na escola
Julio Groppa Aquino diz que nós, educadores destes tempos modernos, nada mais somos do que babás.
“Babás+”, foi o termo engraçadinho sugerido por ele para colocar em
pauta esta realidade de pais que não querem saber das relações, dos
aprendizados, do ensino, das evoluções de suas crianças. Exigem em
primeiro lugar que sua cria seja mimada pela escola, aplaudida a todo
momento, nunca confrontada.
Não confiar em quem se confiou a
educação dos filhos é uma grande insegurança, certamente um sinal de
pais mimados. Nota baixa é culpa do professor, comportamento ruim é
culpa da escola e a comunidade é cruel e não ideal para ensinar seu
filho a lidar com a vida.
Antes a criança respondia à escola, agora é a escola que responde à criança.
Eles elogiam muito a cria
Prática
comum entre os pais zelosos, elogiar a criança faz bem, aumenta sua
autoestima, favorece o desenvolvimento da criança, dá segurança,
correto? Errado.
No livro Filhos: novas ideias sobre educação, Po Bronson e Ashley Merryman contam de recentes pesquisas que mostram, entre outras coisas, o poder inverso do elogio.
A explicação é muito simples: assegurar a todo momento que seu filho é inteligente faz com que a criança se torne insegura desta sua condição.
E, por medo de errar e perder o título da inteligência, a criança passa
a arriscar menos e a se esconder atrás desta máscara. Cheia de
inseguranças e com um batalhão de elogios vazios (que recebeu sem
perceber seus esforços), está aí um bom início de frustração para o
pimpolho.
Em comum, o que todos estes tópicos têm é que tratam a
criança como um frágil cristal. Delicada, fruto de uma imaginação
romântica de pureza, incapaz de lidar com qualquer obstáculo. Sabemos
que frustração é algo que ninguém quer para sua cria. Mas é só o que a
vida garante.
Que tal começar a criar seu filho para o mundo?
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