Com o coração aberto algo acontece
:: Bel Cesar ::
Aprendemos
tantas vezes a fechar nosso coração para nos proteger, que abri-lo é um
grande desafio. Abrir o coração é uma atitude pouco familiar em nossa
cultura ocidental que estimula o espírito competitivo.
As diversas tradições espirituais nos ensinam sobre a importância de
abrirmos nossos corações e abandonarmos nossa atitude comumente
egocentrada para que haja paz no mundo.
A mensagem essencial da filosofia budista consiste, justamente, em nos
esclarecer que o apego à nossa auto-imagem é a raiz de todo nosso
sofrimento. Pois o hábito de considerar nosso próprio Eu como o único
referencial verdadeiro na percepção da realidade está arraigado em nossa
atitude mental desde que nascemos.
Uma vez Lama Gangchen me disse diretamente: O Caminho do Tantra é
maravilhoso, mas só se você quiser abrir o seu coração. Senão, ele se
torna um caminho muito difícil de percorrer, e aí não vale a pena.
Lama Gangchen Rinpoche nos inspira a enfrentar este desafio.
Pacientemente, ele nos ensina a superar o hábito de pensar no que se
restringe somente a nós mesmos. Ao seu lado, testemunhamos o valor de um
coração verdadeiramente aberto. Com o coração aberto algo acontece
disse-me ele, certa vez.
O budismo nos mostra que enquanto nos interessarmos apenas por nós
mesmos, nada acontece e os nossos problemas sempre parecerão
intransponíveis. Contaminada pela avareza, a mente egocentrada está
continuamente preocupada com a idéia do Eu, e torna-se, assim, tensa e
angustiada.
O caminho espiritual nos chama para a abertura: ter empatia pelos
outros, reconhecer que estamos todos interligados. Enquanto estivermos
presos por uma visão egocentrada, intensificada pela idéia de que somos
seres separados uns dos outros, não poderemos ser empáticos, pois
estaremos limitados pela carência de ser constantemente reconhecidos por
eles.
Assim como escreve Pema Chödrön em Quando tudo se desfaz (Ed. Gryphus):
Quando nos tornamos mais perspicazes e compassivos diante de nossas
próprias dificuldades, espontaneamente sentimos mais ternura pelos
outros seres humanos. Ao conhecer nossa própria confusão, ficamos mais
dispostos e capazes para colocar a mão na massa e tentar aliviar a
confusão dos outros.
Somente quando estamos bem conosco, temos energia disponível para
perceber o outro. De fato, precisamos, antes de tudo, abrir nosso
coração para nós mesmos. Cultivar a auto-estima, portanto, reconecta-nos
com a sabedoria da interdependência.
Bel César Psicóloga
stum.com.br
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