sábado, 27 de setembro de 2014

A GAROTA QUE AMAVA O VENTO DO NORTE




Era uma vez uma garota cujo amante era o vento do norte. Ele morava longe, mas uma vez por ano vinha visitá-la. O ano inteiro ela esperava por ele. Ela o esperava na floresta. Ela o esperava nas colinas. Ela o esperava observando a superfície do rio bem abaixo, pois esse era o caminho que ele fazia. Sim, todos os anos ele subia rodopiando o rio e parava para fazer amor com a garota selvagem da floresta, e o ano inteiro ela esperava por ele.
Mas um ano ele não apareceu e a garota aguardou, preocupada. Será que ele tinha outra namorada? Ela perguntou ao vento sul, quente, se ele sabia. Ela perguntou ao vento do oeste e ao vento do leste, mas todos eles permaneciam em silêncio.

Então a garota procurou a avó. A velha senhora a escutou como só uma senhora sábia consegue e se ofereceu para ensinar a ela uma canção. "Eu conheço uma canção", ela disse, "tão poderosa que, quando ele a escutar, terá que vir. Depois que você a aprender, vá para o topo do morro e cante."
Quando a garota aprendeu a canção, ela subiu até o topo do morro, bem acima da floresta. Com os olhos no rio, começou a cantar e, quando terminou a canção, ela aguardou, mas nada aconteceu. Nenhuma folha se moveu, nenhum pássaro cantou. Então ela cantou novamente, mas ainda assim nada aconteceu. O seu canto triste, e o ar quente e a poeira secaram a sua garganta.

Ela voltou a procurar a avó e contou-lhe que a canção mágica não havia funcionado. O vento do norte não havia aparecido.
A velha senhora olhou-a de cima a baixo, como apenas uma sábia senhora consegue fazer, e disse: "Não admira que ele não tenha vindo. Olhe só para você. Suas roupas, seu cabelo, seu rosto. Vá tomar um banho no rio, penteie os cabelos e, quando você cantar, atire para trás a cabeça. Cante alto... cante como se você o estivesse esperando".
Então a garota desceu até o rio e se banhou. Ela raspou o corpo com pedras para limpá-lo e friccionou com óleo. Penteou seus longos cabelos até que eles brilhassem. Então vestiu suas roupas velhas, subiu a encosta do morro e começou a cantar. Mas a sua canção ainda não foi forte o suficiente e nada aconteceu.

Ela então se deu conta das roupas velhas que vestia. "Ele nunca vai aparecer seu eu estiver vestida assim", ela disse, enquanto se livrava daqueles farrapos. Agora ela se apresentava perante o mundo, nua e bela. E então ela atirou a cabeça para trás. Desta vez sua voz soava forte, intensa e clara enquanto ela cantava, até que cada parte de seu ser resplandecia de prazer.

De repente, a face do rio tremeu. As árvores em suas margens começaram a balançar. Os ramos sacudiam e as folhas tremiam, pois o vento do norte estava chegando. Dobrando a curva do rio ele veio. Descendo do céu, ele veio. Precipitando-se pela encosta do morro, ele veio correndo. Tomou a garota nos braços e a envolveu. Ela o levou para baixo, para a floresta, e ali eles fizeram amor. Quando ele partiu, a garota ficou por um longo tempo deitada nas colinas, cantando suavemente a canção que o havia trazido até ela. E depois disso, todos os anos ela se preparava do modo como a velha senhora havia sugerido. Ela se lavava no rio, saía de suas roupas velhas, atirava a cabeça para trás para cantar, para cantar bem alto.

Do Livro : Corpo em equilíbrio, O poder do mito e das histórias para despertar e curar as energias físicas e espirituais,  Nancy Mellon

(integracaoholistica.blogspot.com)

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