Uma vez havia uma aldeia de criaturas no fundo do leito de um grande rio cristalino...
A corrente do rio passava silenciosamente por cima de todos eles, jovens e velhos, ricos e pobres, bons e maus, a corrente seguindo, o seu caminho, só conhecendo o seu próprio ser cristalino..
Cada criatura, a seu modo, se agarrava fortemente ás plantas e pedras do leito do rio, pois agarrar-se era o seu modo de vida, e resistir à corrente era o que cada um tinha aprendido desde que nascera...
Mas uma das criaturas disse, por fim:
- Estou farto de me agarrar. Embora não possa ver com meus próprios olhos, espero que a corrente saiba para onde está indo...
- Vou soltar-me e deixar que ela me leve para onde quiser. Se me agarrar, morrerei de tédio.
As outras criaturas riram-se e disseram:
- Louco! Se você se soltar, essa corrente que você adora o lançará despedaçado sobre as pedras e a sua morte será mais rápida do que a causada pelo tédio!...
Mas aquele não lhes deu ouvidos e, respirando fundo, soltou-se, e imediatamente foi lançado e despedaçado pela corrente sobre as pedras!
Mas com o tempo, como ele se recusasse a tornar a se agarrar, a corrente o levantou, livrando-o do fundo, e ele não se machucou nem se magoou mais.
E as criaturas mais abaixo no rio, para quem ele era um estranho, exclamaram: -Vejam, um milagre! Uma criatura como nós, e no entanto voa! Vejam, é o Messias que chegou para nos salvar!..
E aquele que foi carregado pela corrente disse: - Não sou mais Messias do que vocês. O rio tem prazer em nos erguer à liberdade, se ousarmos nos soltar. O nosso verdadeiro trabalho é essa viagem, é essa aventura!
No entanto, cada vez exclamavam mais: '- Salvador ! , enquanto se agarravam às pedras; quando tornaram a olhar, ele se fora, e eles ficaram sozinhos, inventando lendas sobre um Salvador.
Do livro Ilusões de Richard Bach
Imagem : Google
Nenhum comentário:
Postar um comentário